IMPACTOS CULTURAIS DA PANDEMIA DO COVID-19: NOVAS FORMAS DE FAZER E VIVER

Autores: Ana Cláudia Vitório de Carvalho Goés; Danielle Ferraz Garcia; Everton Nazareth Rossete Junior; Manoel Antônio de Oliveira Rosin. (GRUPO 01)


A pandemia causada pelo Covid-19 vem alterando consideravelmente o viver e o fazer humano. Em todas as esferas do cotidiano as mudanças foram sentidas. A princípio foram tratados aspectos políticos, econômicos e sociais que já demonstraram o potencial de mudança que a pandemia gerou. Trataremos adiante de outros aspectos que também sentiram de maneira profunda as consequências geradas pela pandemia.

É inerente ao homem a cultura, para Claval (apud ROMANCINI, 2014, p. 201):


A cultura é a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em uma outra escala, pelo conjunto dos grupos de que fazem parte. [...] Não é portanto um conjunto fechado e imutável de técnicas e de comportamentos. Os contatos entre povos de diferentes culturas são algumas vezes conflitantes, mas constituem uma fonte de enriquecimento mútuo.


Culturalmente somos dotados da capacidade de convívio social e interações que conformam nossa identidade cultural. O Covid-19 não poupou nosso ser-cultural, e a primeira coisa que precisamos fazer foi afastar-nos. Através deste afastamento foi necessário repensar a forma com que lidamos com vários aspectos intrínsecos ao nosso dia-a-dia, entre eles, formas de conviver à distância, de manter as relações sociais sem o toque, sem a presença física, a forma como nos exercitamos e até mesmo a forma como consumimos produtos culturais.

Os impactos causados pelo isolamento social estão longe de serem considerados apenas pelo viés econômico. Ao adentrarmos nesta corrente de incertezas originadas pela pandemia do Covid-19. O ser humano, sociável por natureza, viu-se de repente diante da necessidade de isolar-se para evitar a propagação do vírus. Em todos os países do globo a receita foi única: isolamento social.  Gradativamente fomos nos isolando em nossas casas, afastados dos ambientes de trabalho e circulando apenas em prol da necessidade básica de alimentação ou para cuidados médicos indispensáveis. 

A nova realidade foi encarada de diferentes formas pelas nações afetadas, na Itália foi comum ver-se cenas de pessoas cantando em suas janelas ou aplaudindo os profissionais de saúde. Tais atitudes também foram replicadas por outros países europeus. 

Diante das novas necessidades causadas pela pandemia outro importante fator surgiu: a solidariedade. Os grupos de risco que tiveram que se isolar de maneira mais restrita necessitaram de um apoio maior para continuar tendo a sua alimentação e necessidades básicas sendo supridas. Foi aí que viu-se brotar em todos os cantos pessoas solidárias que se ofereceram para ir ao supermercado, farmácias e demais locais necessários em nome da segurança dos mais vulneráveis. 

A cultura das populações também teve forte influência na forma de encarar o isolamento social, no Brasil, país que é habituado e expressar calorosamente seus sentimentos o impacto sentido pelo afastamento das pessoas foi duro para muitos:


O Brasil é um país onde as interações interpessoais cotidianas são mediadas pelo toque: apertos de mãos, abraços e beijos são comuns e socialmente aceitos pelas pessoas.

Nesse sentido, um cenário onde a distância e o isolamento precisam ser adotados, pode ter consequências negativas para saúde mental dos indivíduos. Esse impacto pode ser agravado, ainda, pelas incertezas socioeconômicas que se intensificam em um momento de crise humanitária. (CRUZ, 2020).


Assim, as redes de apoio entre vizinhos, parentes e amigos surgiram justamente para além do auxílio básico, focaram também na necessidade de apoio e suporte psicológico para atravessar os tempos de incerteza e medo. Neste quesito, a tecnologia foi a pedra fundamental que possibilitou o encurtamento das distâncias e a facilitação dos encontros, ainda que virtuais. Em tempos de isolamento, vale a pena apostar na aproximação com o outro, ainda que seja de maneira remota. 

A necessidade de se ficar em casa provocou outras maneiras de gerar entretenimento, comunicação e também cuidar da própria renda. Uma das alternativas para que algumas atividades culturais e artísticas não parassem foi o fortalecimento das livestreams ou lives, transmissões ao vivo, onde o criador transmite seu conteúdo em tempo real, geralmente em plataformas de redes sociais.

A reclusão trouxe inúmeros e nítidos impactos em diversos setores da sociedade. De um lado, a população se viu sem as trocas sociais tão presentes e necessárias, e sem acesso a parte do entretenimento que lhe era costumeira. Do outro, artistas dos mais diversos nichos de produção e mercado se viram sem a possibilidade de atuar e performar suas artes e muitas vezes fontes primárias de renda.

Como afirma Veloso (2020), “O movimento das lives começou com intenções humanitárias e experimentais, mas o estilo de entretenimento mostrou bom potencial e se provou uma ferramenta promissora para criadores trabalharem no presente e também no futuro”. Destaca-se fortemente a potência de atrações musicais, que conforme o produtor e gestor cultural Gregory Combat (BRASIL DE FATO, 2020), chegaram a alcançar mais de 3 milhões de pessoas assistindo em tempo real.

Até mesmo atividades físicas tiveram suas práticas popularizadas através de apresentações ao vivo, incentivando a cultura de exercitar-se em casa, com o que se tem disponível – sendo uma alternativa para o combate ao sedentarismo. Claro, sendo sempre importante destacar que com todos os benefícios que atividades físicas nos trazem, se elas forem executadas de forma incorreta podem gerar vários malefícios, como afirma Pedro Rocha, profissional de Educação Física formado pela Universidade Celso Lisboa, lembrando que tanto postura incorreta como carga inadequada são fatores prejudiciais (AGENCIAUVA, 2020).

Além da música, e algumas atividades físicas, o teatro, a literatura, a dança, entre outros buscaram nas lives uma forma de conexão e de dar continuidade a produção e difusão de conteúdo. Esta explosão de conteúdos passou a se tornar diluída por parte do público, numa realidade onde milhares de canais lutam para captar a tenção do espectador para suas demandas (COMBAT, 2020).

Desde fatores como saturação, até mesmo o formato pensado para exibição de patrocinadores que gerou comerciais dentro das transmissões, a reestruturação rápida desta modalidade de apresentação vem apresentando uma diminuição em termos numéricos de quantidade e espectadores. Como destaca o jornal Brasil de Fato, através do produtor Gregory Combat (2020) esta novidade vive agora um período de baixa, aliada a flexibilização e retorno gradual de algumas atividades fora do ambiente domiciliar.

Diante das novas maneiras de convívio, consumo e informações que o Covid-19 apresentou, resta-nos saber de que forma elas alterarão nosso futuro. Quais legados o Covid-19 deixará? E como esse legado altera nossa identidade cultural?

Um dos maiores aliados à manutenção do viver humano em tempos de pandemia certamente tem sido a tecnologia. Com a degradação e rápidas transformações as quais o meio-ambiente tem sido submetido, já se levantam especulações de que novas ondas de pandemias serão uma realidade no futuro próximo. Será necessário avaliar de que forma fomos beneficiados pelas novas formas do viver e fazer, em questões de aproximação das relações humanas e enriquecimento do nosso ser cultural e implementá-las de forma que consigamos desenvolver um modo de vida resiliente, capaz de se adequar com facilidade as mudanças que teremos pela frente.


 REFERÊNCIAS

AGENCIAUVA. Lives de atividades físicas: a nova realidade dos tempos de pandemia. Disponível em: <https://agenciauva.net/2020/08/12/lives-de-atividades-fisicas-a-nova-realidade-dos-tempos-de-pandemia/> Acesso em 18 set. 2020.

COMBAT, Gregory. O desgaste das lives e a banalização da pandemia. In: Jornal Brasil de Fato. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2020/08/12/artigo-o-desgaste-das-lives-e-a-banalizacao-da-pandemia> Acesso em 18 set. 2019.

CRUZ, Claudia. Coronavírus: Os impactos do distanciamento e do isolamento social na saúde mental das pessoas. [S. l.], 31 mar. 2020. Disponível em: https://sosvida.com.br/saude-mental-isolamento-social/. Acesso em: 19 set. 2020.

 ROMANCINI, S. R. Identidades de Mato Grosso: Olhares Geográficos. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Cuiabá, n. 74, p. 292, 2014. ISSN 1677-0897.

VELOSO, Daniel. Febre das lives: por que elas são o começo de um novo mercado no Brasil. In: FORBES. Disponível em: <https://forbes.com.br/negocios/2020/06/febre-das-lives-por-que-elas-sao-o-comeco-de-um-novo-mercado-no-brasil/>. Acesso em 18 set. 2020.

Comentários

  1. A proposta optou por tratar a cultura enquanto característica inerente à uma população, no caso a brasileira, com sua capacidade de colocar-se no lugar do outro e colaborar para melhorar a situação geral causada por um efeito inesperado.

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