IMPACTOS ECONÔMICOS DA PANDEMIA DE COVID-19 NO SETOR DE CONSTRUÇÃO CIVIL
Autores: Ana Cláudia Vitório de Carvalho Goés; Danielle Ferraz Garcia; Everton Nazareth Rossete Junior; Manoel Antônio de Oliveira Rosin. (GRUPO 01)
A construção civil, que teve no ano de 2019 um forte crescimento e consolidação de suas atividades, viu em 2020 toda a sua ascensão sofrer forte queda por conta da pandemia do novo coronavírus. O setor que foi alavancado pelo aquecimento do mercado imobiliário nos anos anteriores sofreu com o impacto das paralisações das atividades por todo o país.
Apesar do baque, a construção civil é tida como atividade essencial pela maioria dos governantes e após o primeiro impacto das quarentenas impostas, teve sua retomada em diversas cidades. Difícil é neste momento se estimar ou prever como se comportará o mercado relacionado a este setor daqui para frente, uma vez que em momentos de incerteza global os investidores tendem a reter os seus aportes, aguardando por momentos de maior estabilidade econômica.
O setor da construção engloba vários subsetores e agrega uma gama diversificada de serviços que se inter-relacionam, logo, o efeito dominó na paralisação de suas atividades afeta várias áreas de mercado e consequentemente um rol maior de trabalhadores.
A principal e primária mudança adotada por conta desta pandemia global foi o isolamento social, incentivando que se saia de casa somente quando estritamente necessário. Apesar do turismo ser nitidamente um dos setores mais impactados pelo confinamento, e impedimento de viagens, foi o setor de construção civil, no Brasil, que sofreu um maior fechamento de negócios. De acordo com o Jornal Nexo (2020), das mais de 710 mil empresas que fecharam as portas até meados de julho deste ano, 28,5% - cerca de 68 mil - eram do setor de construção.
Além da queda e fechamento de empresas de pequeno e médio porte, dados do PIB mostram que enquanto a economia nacional registrou queda de 1,5% no primeiro trimestre de 2020, a construção civil teve queda de 2,4% - e ainda de acordo com o IBGE, o setor de infraestrutura teve influência significativa nesta queda. Segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, a queda nas obras de infraestrutura tem relação com os modelos de projetos adotados. Segundo Martins, “Se o país tivesse optado por realizar uma quantidade maior de obras menores, em detrimento de concentrar esforços em poucos projetos de concessão gigantescos, hoje teríamos muito mais obras sendo realizadas pelo Brasil afora. O investimento precisa ser capilarizado, regionalizado e diversificado” (CBIC, 2020). A fala de Martins vai de acordo com a fala do professor David Kallás ao Jornal Nexo (2020), que afirma que a pequena empresa é o motor da economia, já que além de gerar mais emprego, está mais distribuída pelo território, distribuindo a renda para além de grandes centros.
Ainda que a queda em grandes obras seja nítida e significante, o confinamento caseiro decorrente da pandemia reacendeu um nicho de construção: reformas residenciais. A abrupta ampliação do tempo que as pessoas passam dentro de casa dilatam suas sensações em relação ao espaço doméstico – positiva ou negativamente. Com isso, o ímpeto de resolver problemas não percebidos ou até então relevados, ou de amplificar sensações positivas, estão injetando capital em lojas de material de construção, e ampliando o mercado de mão de obra informal.
Mesmo que, segundo Martins (CBIC, 2020), o segmento de pequenas reformas do setor de construção – que envolvem microempreendedores informais – tenha sido muito afetado no início da crise da pandemia, com o decorrer do tempo pedreiros, encanadores, pintores ou até mesmo vizinhos habilidosos que perderam seus empregos ou tiveram reduzidas suas jornadas profissionais trabalham, ainda que na informalidade, na busca de uma renda que provavelmente não teriam em outro contexto.
Ouvindo depoimentos, vê-se que em algumas lojas de material de construção já é nítida a pouca alteração do movimento de clientes – podendo esta diferença em alguns casos ser considerada inclusive positiva (ROMANI, 2020). Pequenos reparos e alterações nos ambientes onde ficam confinados, desde transformações de ambientes em espaços mais privativos para videoconferências, dentre outras melhorias têm proporcionado, neste momento de crises, uma alternativa a um mercado para trabalhadores não vinculados à grandes empresas de construção.
Contrariando as expectativas iniciais, a construção civil, apesar de apresentar grande perda econômica devido aos efeitos da pandemia do Coronavírus, vem demonstrando ser um dos setores mais resilientes e demonstra sinais de resistência aos efeitos negativos da pandemia.
A princípio, as medidas de isolamento social através da aplicação da quarentena, onde apenas serviços essenciais poderiam funcionar normalmente, impedia que os stands de vendas abrissem, o que causou grande impacto nas vendas de imóveis (INFOMONEY, 2020a). Em março de 2020 pode-se observar uma perda acentuada de ganhos, se comparados aos observados em 2019, onde “a maioria dos papéis caiu mais que o Ibovespa (-36,78%)” (INFOMONEY, 2020a).
Após a publicação do Decreto 10.282, de 20 de março, o setor da construção civil passa a constar no rol de atividades essenciais, o que flexibiliza o funcionamento de todo o setor e atendendo as perspectivas mais otimistas, traz uma retomada econômica que passará a ser sentida efetivamente a partir do terceiro trimestre.
Pode-se observar essa retomada em entrevista dada por Rafael Menin, CEO da MRV, em agosto de 2020, onde ele afirma que a procura por imóveis da empresa teve um aumento de 50% nos últimos três meses, procura essa, que se justificaria exatamente pelo maior tempo em que as pessoas passam dentro de suas casas, por conta do isolamento social, onde elas passam a perceber a importância de habitações de qualidade (INFOMONEY, 2020b). Esta recuperação da empresa MRV demonstra coerência com as expectativas iniciais sobre a construção civil, onde o site Infomoney (2020a) afirma que segundo os cálculos do banco de investimentos BBA, era esperado que as empresas voltadas para as classes médias e altas sentiriam mais a queda de suas receitas (entre 10% e 48%) quando comparadas com empresas voltadas para a baixa renda (entre 8% e 17%).
No entanto, mesmo com a economia em processo de recuperação e retomada, é importante destacar que assim como os demais setores, a construção civil está em caminho de adaptação e readequação, seja através de descontos oferecidos para a viabilização das transações no novo cenário e até mesmo novas opções que atendam ao trabalhador inserido neste panorama (INFOMONEY, 2020b), as quais também impactam positivamente na retomada da economia.
Uma destas readequações, foi a adoção, não apenas por empresas da construção civil, de vendas digitais. Uma das empresas que adotou o novo modelo e vem se beneficiando do mesmo durante a pandemia, foi a construtora Tenda, a qual afirmou em junho de 2020 que seu melhor mês de vendas no ano, foi em abril, onde mesmo com todas suas lojas físicas fechadas, obteve este resultado através do investimento em seu canal de vendas on-line e ampliando o marketing para a divulgação de seu atendimento virtual (INFOMONEY, 2020c).
Já se pode, então, perceber como o setor de construção civil reage à pandemia e ao isolamento social, em várias partes do mundo. Obras paradas, canceladas, ou até mesmo as que insistiram em continuar tiveram problemas com infecções entre funcionários, chegando até óbitos.
Mesmo com as grandes obras paradas, o que se percebe são pequenas obras privadas pelas cidades, com financiamentos mais acessíveis e utilizados como uma solução para aqueles que não conseguem dinheiro autonomamente. Com a tomada da normalização das atividades, espera-se que o setor de construção civil termine os projetos pendentes e inicie novos, retomando o aquecimento do mercado como antes.
A pandemia deixa um aprendizado enorme para a construção, assim como todos os outros setores. No entanto, para um setor que pouco evoluiu, o momento tem sido ímpar para adesão de ferramentas digitais, de industrialização da cadeia produtiva, da avaliação de como fazemos nossas edificações e para quem projetamos. Ações coletivas de discussão das estratégias de mercado têm sido feitas constantemente, como é o caso da iniciativa PandeBuilding, que reúne os maiores especialistas do mercado para discussão do futuro das edificações pós pandemia.
Antes da pandemia de Coronavírus, a projeção era que a construção na América Latina cresceria, em média, 2,3% neste ano. Porém, independentemente da queda prevista para 2020, o presidente da Federação Interamericana da Indústria da Construção (FIIC), Sergio Toretti, confia na retomada do crescimento em 2021. Por um simples motivo: o setor é fundamental para que a economia do continente supere a crise na pós-pandemia. “Não há qualquer dúvida de que a construção será o vetor para superar a crise. Por várias razões. Primeiro, é um grande gerador de empregos; segundo, é um motor de reativação econômica muito importante e de efeito imediato, por causa do tamanho da cadeia produtiva que envolve. Vai desde grandes construtoras até microempresas prestadoras de serviço, passando por fabricantes de materiais e de equipamentos”, diz Toretti.
No continente latino-americano, o maior declínio esperado é para a já combalida Venezuela, com expectativa de queda de 15%. Em seguida, virá a Argentina, cuja construção civil deve cair 10%, acompanhada de México e Brasil, que poderão retroceder entre 6% e 8%. Já os países onde o impacto será menor são Chile, Peru e Uruguai. Guatemala, El Salvador, Honduras e Paraguai também sentirão com menos força os danos da crise, estima a FIIC.
No continente latino-americano, o FMI avalia que o segmento voltado à construção habitacional deverá ter queda de até 50% nas vendas. No plano da infraestrutura, também se projeta um recuo equivalente a 45%. Porém, o Fundo Monetário Internacional considera que a infraestrutura pode ser uma promissora ferramenta para que os governos contratem mão de obra e alavanquem as economias de seus respectivos países.
“A crise vai aumentar o déficit de infraestrutura em nosso continente. Isso obrigará ações conjuntas do setor público e do setor privado. É a única maneira de conseguir viabilizar obras, pois sozinho o poder público não terá recursos. Tampouco o setor privado. Será a oportunidade para produzir eficazes parcerias público-privadas em nossos países”, cita o presidente da Federação Interamericana da Indústria da Construção.
É fato que o freio de mão puxado por diversos consumidores e clientes deste mercado influenciou negativamente nas vendas de imóveis e transações relacionadas, porém com diversas obras já em andamento e outras recém lançadas o setor vem apresentando uma recuperação mais visível se comparado com outras áreas da economia.
Com o intuito de amenizar as perdas da categoria, diversas instituições financeiras aproveitaram o momento para reduzir suas taxas de juros aplicadas à construção civil e estimularam o aquecimento do setor, ainda que de forma gradativa. Fato é que invariavelmente, assim como em outras áreas da economia, os mais afetados pela pandemia são a parcela que trabalha na informalidade - mesmo que inicialmente estes são os que tenham inicialmente continuado a trabalhar - ou pequenas empresas que não possuíam capital suficiente para sustentá-las durante os períodos de incertezas ou paralisações das construções. Apesar de todo este cenário, o setor vem apresentando boas reações e já é visto como um dos pilares da recuperação econômica em nível global.
REFERÊNCIAS:
AGÊNCIA CBIC. Impacto da pandemia na construção civil é maior em mercado informal. 2020. Disponível em: <https://cbic.org.br/impacto-da-pandemia-na-construcao-civil-e-maior-em-mercado-informal/> Acesso em 14 ago. 2020
DIÁRIO DE PERNAMBUCO. A retomada da construção civil no período pós pandemia Disponível em: <https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/economia/2020/05/a-retomada-da-construcao-civil-no-periodo-pos-pandemia.html>. Acesso em 14 ago. 2020.
FIGO, A. Infomoney. “Mesmo com a pandemia, a procura pelos nossos empreendimentos aumentou 50% nos últimos três meses”, diz CEO da MRV. 2020. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/mercados/mesmo-com-a-pandemia-a-procura-pelos-nossos-empreendimentos-aumentou-50-nos-ultimos-tres-meses-diz-ceo-da-mrv/>. Acesso em 14 ao. 2020.
JORNAL NEXO. Qual o impacto a longo prazo do fechamento de pequenas empresas. 2020. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/07/20/Qual-o-impacto-a-longo-prazo-do-fechamento-de-pequenas-empresas> Acesso em 14 ago. 2020.
MAIS CONTROLE. Oportunidades para a construção civil diante da crise do novo coronavírus. Disponível em: <https://maiscontroleerp.com.br/oportunidades-diante-do-novo-coronavirus/>. Acesso em 14 ago. 2020.
ROMANI, Tula Kirst. Depoimento pessoal via conversa telefônica. Realizado em 14 ago. 2020.
TOLEDO, L. Infomoney. Na Tenda, venda de imóveis online segue em ritmo acelerado, diz CEO. 2020. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/negocios/na-tenda-venda-de-imoveis-online-segue-em-ritmo-acelerado-diz-ceo/> Acesso em 14 ago. 2020.
ZOGBI, P. Infomoney. Construção civil sofre efeitos do coronavírus, mas analistas veem luz no fim do túnel. 2020. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/mercados/construcao-civil-sofre-efeitos-do-coronavirus-mas-analistas-veem-luz-no-fim-do-tunel/>. Acesso em 14 ago 2020.
FIGO, A. Infomoney. “Mesmo com a pandemia, a procura pelos nossos empreendimentos aumentou 50% nos últimos três meses”, diz CEO da MRV. 2020. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/mercados/mesmo-com-a-pandemia-a-procura-pelos-nossos-empreendimentos-aumentou-50-nos-ultimos-tres-meses-diz-ceo-da-mrv/>. Acesso em 14 ao. 2020.
JORNAL NEXO. Qual o impacto a longo prazo do fechamento de pequenas empresas. 2020. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/07/20/Qual-o-impacto-a-longo-prazo-do-fechamento-de-pequenas-empresas> Acesso em 14 ago. 2020.
MAIS CONTROLE. Oportunidades para a construção civil diante da crise do novo coronavírus. Disponível em: <https://maiscontroleerp.com.br/oportunidades-diante-do-novo-coronavirus/>. Acesso em 14 ago. 2020.
ROMANI, Tula Kirst. Depoimento pessoal via conversa telefônica. Realizado em 14 ago. 2020.
TOLEDO, L. Infomoney. Na Tenda, venda de imóveis online segue em ritmo acelerado, diz CEO. 2020. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/negocios/na-tenda-venda-de-imoveis-online-segue-em-ritmo-acelerado-diz-ceo/> Acesso em 14 ago. 2020.
ZOGBI, P. Infomoney. Construção civil sofre efeitos do coronavírus, mas analistas veem luz no fim do túnel. 2020. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/mercados/construcao-civil-sofre-efeitos-do-coronavirus-mas-analistas-veem-luz-no-fim-do-tunel/>. Acesso em 14 ago 2020.
Gostaria de perguntar como foi escolhido, entre todos, o prisma da construção civil?
ResponderExcluirMesmo trabalhando juntos pela primeira vez, o grupo é formado por arquitetas, arquiteto e engenheiro civil. Como as pesquisas individuais são bem amplas e sem uma convergência nítida, usamos este ponto comum das nossas atuações.
ExcluirLegal, o ponto em comum entre voces o da construção civil. Parabéns
ResponderExcluirImportante trazer luz há um setor que corresponde a um dos pilares dos direitos humanos, o direito a moradia. A ausência deste direito tem causado o agravamento dos efeitos da pandemia e dificultados o combate ao vírus Covid19.
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