Atravessamentos culturais nas subjetividades coletivas

Por Alex Dias Curvo, Antonio Cleber Zequetto e Maria Teresinha Dias Curvo.

Não há um tipo de cultura inerentemente melhor do que o outra. De fato, uma das maneiras exclusivamente mais adequadas para se adaptar a uma pandemia mundial é o coletivismo. Quando se desfocam os efeitos sociológicos que o excesso de individualismo causa, nascem novas interpretações para ambientes, pessoas e circunstâncias. 

Ortiz (1994) sinaliza sobre a coexistência de expressões culturais num contexto homogeneizado, como a sociedade global é atualmente, indicando como o mundo torna-se um supersistema e a noção de interdependência fica latente. Assim, o mundialismo dá lugar a uniformidade, à diversidade, à complementariedade e quando há um agravo nesta rede, todos sentem seus efeitos. 

 “Estamos interligados, independentes das vontades. Somos todos cidadãos do mundo, mas não no antigo sentido, de cosmopolita, de viagem. Cidadãos mundiais, mesmo quando não nos deslocamos, o que significa dizer que o mundo chegou até nós, penetrou nosso cotidiano” (ORTIZ, 1994, p.7-8).

Quando pensamos em impactos pandêmicos ocasionados pela Covid 19, imaginamos vários aspectos, tais como: econômicos, políticos, sociais, ambientais. Ao lançarmos luz sobre os impactos culturais percebem-se como muitas redes de relações foram atingidas. Os trabalhadores da cultura foram os primeiros a ficarem sem empregos e serão os últimos a se restabelecerem, considerando que precisam de públicos que geram aglomerações. Dessa forma este grupo, teve suas atividades interrompidas e de quebra o seu sustento, podemos dizer que a cultura caminha em passos lentos ao retorno, algumas novas formas de apresentação foram estabelecidas, como lives, drive-ins, mas ainda estão longe de voltarem a normalidade. E em contrapartida as plataformas de streaming tiveram uma aceitação ainda maior do que já tinham, trazendo formas de diversões a pessoas que ainda não possuíam este hábito e aumentando o acesso das pessoas que já tinham este costume. 

Diante deste cenário, podemos refletir em mudanças, construções de um novo normal e talvez a diminuição de alguns hábitos já consolidados, pois o ser humano carece de cultura para estabelecer estruturas relevantes em suas paisagens e também para saírem do imaginário real e partirem rumo ao imaginário do imaginário. A pandemia do Coronavirus atingiu todos os setores da sociedade, pois resultou em mudanças significativas no modo de ser e de agir de todos. 

No campo cultural, não foi diferente. Em face da rápida expansão do vírus, os cancelamentos de grandes eventos culturais foram evoluindo de forma muito rápida, pois esses eventos reuniam um grande público, gerando aglomeração, o que significava um meio de propagação rápida do vírus. Por recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os eventos que causassem aglomeração deveriam ser suspensos. No Brasil e no mundo, locais com grande circulação de pessoas foram fechados e as aglomerações, proibidas. Isso impactou diretamente o setor cultural, considerando que eventos como shows, festas e festivais foram proibidos. Teatros, cinemas, museus fechados. Enfim, todos os espaços públicos culturais fecharam as portas, tiveram que cancelar ou adiar os eventos programados. Por questão de sobrevivência, foi necessário tomar essas medidas drásticas, que inevitavelmente afetaria financeiramente aos artistas em geral, aos fãs, funcionários, organizadores. Uma cadeia de pessoas, que de repente, se viram sem os seus trabalhos, sem suas rendas. A pandemia significou uma crise no setor cultural, com a suspensão ou adiamento dos projetos, fragilizando a criação e trazendo uma gama de incertezas quanto ao retorno dessas atividades, as quais dependem do público para acontecer. 

Por outro lado, podemos constatar que a pandemia, além de afetar financeiramente o setor cultural, teve um outro desdobramento, atingindo também, de forma brutal aos rituais culturais de todos os povos em relação a seus mortos. Sabemos que os ritos fúnebres têm uma importância relevante nas mais diversas culturas, e, por medida de segurança, quando ocorre o óbito por coronavirus os familiares são impedidos de realizar esses rituais. Na maioria dos casos, são até mesmo impedidos de ver o familiar morto. Isso afeta de forma muito significativa a sociedade em geral. Seus costumes, tradições e crenças foram deixados de lado. A perda repentina e irreparável de uma pessoa querida, a ausência dos rituais de despedia, com certeza, é uma experiência traumática, que gera, além da tristeza, incredulidade e indignação. Seria necessário reinventar formas de passar por esse momento, para assim, torná-lo menos traumático. 

Nesta metamorfose repentina percebem-se muitas individualidades sendo perdidas e vários abalos quanto a liberdade e escolhas das pessoas sendo reconfiguradas. Parece haver, então, uma lógica e conexão que traz consigo uma consolidação humana necessária para tornar mais sustentável a vida e aniquilar o individualismo exacerbado. As ondas de egoísmo podem dar lugar à comportamentos que fortalecem e beneficiam mutuamente as pessoas se substituídos por ondas de coletividade e altruísmo.


REFERÊNCIAS:

 • Individualismo, coletivismo, por que algumas culturas estão lidando com o COVID-19 melhor do que outras e como podemos aprender e sobreviver à pandemia http://aristhought.com/2020/03/27/individualism-collectivism-why-some-cultures-are-coping-with-covid-19-better-than-others-and-how-we-can-learn-and-survive-the-pandemic-article  Acesso em 18/09/2020. 

 • ORTIZ, Renato. Mundialização da Cultura. Ed. Brasiliense: 2ª edição, São Paulo, 1994.  

Comentários

  1. Relato muito específico. Adequado, correto. Intuo que algum dos autores está passando na pele por esta situação.

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IMPACTOS CULTURAIS DA PANDEMIA DO COVID-19: NOVAS FORMAS DE FAZER E VIVER