Pandemia e Atravessamento Social

 

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA – ECCO

Disciplina: Métodos para Pesquisas.

  1. Professora: Doutora Andréa Ferraz Fernandez.

    Disciplina Ofertada em Ensino a Distância (EaD) – 2020/1, no período de 12/08/2020 a 25/09/2020.

     

    Discentes: Thiago Oliveira da Silva; Valéria Pereira Moreira; Maria de Lourdes Fanaia e José Elias Antunes Neto

     



                O fenômeno da crise sanitária causada pela COVID-19 foi caracterizado como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para conter o avanço da doença pelo mundo, vários países suspenderam eventos, atividades comerciais e educacionais e com isso algumas fronteiras foram fechadas.

                No Brasil, no início de março de 2020, foram adotadas as medidas de distanciamento ou isolamento social, higienizar as mãos com frequência, uso de máscaras de proteção, fechamento de estabelecimentos de ensino, empresas e comércio não essenciais, tem auxiliado para a diminuição da curva de infectados, dando vazão a capacidade de atendimento ampliada pelos hospitais públicos e privados, contudo, tais medidas tem gerado, diversos problemas colaterais, entre eles, falência de empresas, a paralisia da economia, desempregos, casos de depressão e ansiedade, aumento da violência doméstica entre outros. Diante do cenário pandêmico, os benefícios financeiros gerados pela federação, momentaneamente, amenizam a crise econômica e social, por outro lado acentua-se as desigualdades entre países ricos e pobres, bem como, nas estruturas sociais.

  2.  Os sem-teto de  PHOENIX são vulneráveis ​​na pandemia do coronavírus, mas são vítimas invisíveis da crise. Muito pouco se sabe sobre como eles estão se saindo. (https://cronkitenews.azpbs.org/2020/08/24/coronavirus-homeless-people).         Em Cuiabá - MT o governo buscou amenizar o problema social de alguns moradores de rua, diante da pandemia, e expostos em vias públicas, abrigou-os no “Hotel Albergue”[1]. De acordo com a Coordenadora da Assistência social há uma certa resistência por parte dos abrigados, devido a abstinência do álcool. 

  3.           Outro grupo social vulnerável, são  os povos indígenas  duramente afetados pela pandemia com mortes, entre elas, a do cacique Aritana Yawalapiti, que chegou a ser internado em Canarana, Mato Grosso. “Depois de uma tomografia mostrar o comprometimento de 50% do pulmão e a avaliação médica de que os sintomas eram de COVID-19, tentou-se uma transferência para Goiânia de UTI móvel”.[2] Mas Aritana Yawalapiti não resistiu. O cacique ficou conhecido na sua luta pela demarcação das terras indígenas do Alto Xingu, uma luta que se estende pela maioria das etnias brasileiras, como o caso dos Chiquitanos, em Mato Grosso. São pelo menos nove aldeias entre os municípios de Cáceres e Vila Bela da Santíssima Trindade. Com a ocupação da fronteira, eles ficaram confinados em pequenos pedaços de terra, como no caso da Aldeia Vila Nova Barbecho em Porto Esperidião, onde vinte e sete famílias e mais de cem pessoas vivem em uma área de vinte e cinco hectares. Alguns testaram positivo para a COVID-19, complicando ainda mais a situação. Sem ter espaço para plantar e colher, caçar ou pescar e impossibilitados de ir à cidade para trabalhar, ficaram sem fonte de renda. Com ajuda de professores da UFMT, lançaram uma campanha para arrecadar alimentos, material de higiene e remédio. Um dos líderes da aldeia, Soilo Urupe Chue, explicou o porquê da necessidade de se pedir apoio para as famílias em reportagem veiculada no telejornal MT1, da TV Centro América de Cuiabá. “Então, nós viemos através dessa campanha que nos apoiem, que nos defendam dentro desse território, porque nós estamos seguindo né, o que determina a Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde. Porém, pra gente continuar isolado dentro da aldeia, nós precisamos de apoio”, conforme aponta CHUE (2020).   Nesse contexto e na ausência de uma política social comprometida principalmente com os que vivem praticamente na condição de excluídos, torna-se ainda mais largo e profundo o abismo das diferenças sociais no Brasil.

  4.  

     

    Os velhos e velhas em uma sociedade “moderna” se tornaram um problema social?

     

                Todos os seres humanos e não humanos estão em constante envelhecimento desde o seu nascimento ou criação, excetua-se os super heróis de filmes. Em relação aos seres humanos uma das rupturas sociais, que corroboram para ser caracterizado e definido como velho/velha ou não, é a efetivação da aposentadoria. Uma vez que, ao se aposentar o indivíduo, na maioria das vezes, deixa de participar ou talvez de ser considerado parte de um mecanismo capitalista, de gestão dos indivíduos.

                Faz-se necessário destacar, que os dados apurados em 2016, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informaram, que a população idosa correspondente a 60 anos ou mais, iria triplicar até 2050 no Brasil, essa mudança demográfica irromperá profundas alterações nas políticas públicas de saúde e previdência.

                Esclarecemos, que o termo “gestão dos indivíduos” se refere ao controle das pessoas em seguir caminhos impostos pelo Estado e por uma parte da mídia como sendo o único caminho a percorrer em determinado momento, por exemplo, a aposentadoria ativa, que possui uma série de requisitos para se encaixar nesse modelo ou o recolhimento compulsório de indivíduos, que vivem nas ruas.

                Em relação a sociedade considerada moderna, por uma parcela da população, nos identificamos com LATOUR (2008, p. 51) ao descrever, que ao mesmo tempo em que “constituímos algo em permitido ou proibido, e a partir do momento que estudamos de perto o hibridismo e o trabalho de eliminação destes mesmos híbridos, percebe-se que jamais fomos modernos”.

                No livro o Banquete dos Deuses (2000, p. 11) escrito por DANIEL MUNDURUKU, seu Apolinário é avô do escritor, e um dos seus ensinamentos para o seu neto é que:

    “nunca se deixe levar pelo barulho interior. A gente tem que ser como rio. Não há empecilho no mundo que o faça sair ao seu percurso. Ele caminha lento, mas constantemente, ninguém consegue apressar o rio, nunca ninguém vai dizer ao rio que ele deve andar rápido ou parar, nunca apresse o rio interior, a natureza tem um tempo e nós devemos seguir o mesmo tempo dela”.

     

                No parágrafo anterior pela complexidade de compreender as vivências, trajetórias e experiências dos velhos e velhas é inviável o atual modelo do Estado em reconhecer as pessoas mais velhas de maneira uniforme. A velhice é um composto heterogêneo, mutável, passível de modificação, e emprestando o conceito de Bauman a velhice é líquida e volátil como o rio, está sempre em frente, mesmo que, devagar e raramente retorna para a posição anterior. Assim, a velhice também é um desorganizador das esferas da vida social.

     

    Conclusão.

     

                A pandemia causada pelo novo Coronavírus, em que pese, não ter distinção social prejudicou, ainda mais, as pessoas em condições de vulnerabilidade. Um dos fatos pode ser verificado ao passar em frente das agências da Caixa Econômica Federal por todo o Brasil, enquanto para algumas camadas sociais, apesar da dificuldade do distanciamento social, está sendo possível realizá-la. Para outras, é questão de sobrevivência, arriscar a própria vida e de seus familiares, para conseguir recursos para a subsistência da própria família.

                Outro exemplo, aconteceu com um Xavante do estado de Mato Grosso, foi questionado o motivo pelo qual, alguns indígenas continuavam a se deslocar da aldeia para cidade e da cidade para a aldeia, durante a pandemia, o Xavante respondeu “é questão de sobrevivência.

                Mais um exemplo é das pessoas que vivem nas ruas de Cuiabá/MT apesar do Governo do Estado ter alugado um “hotel albergue” para acolher parte dessas pessoas ainda é muito pouco para proteger e apoiar as pessoas mais vulneráveis. Antes da pandemia essas pessoas já moravam nas ruas, e o Governo nunca percebeu?

                Assim, os exemplos acima, somados ao depoimento de uma farmacêutica de Cuiabá – MT, quando milhares de pessoas da classe média e alta adquiriram um dos remédios, após a divulgação não cientifica sobre a prevenção ao Coronavírus, e que, na maioria das vezes a quantidade de remédio era cinco vezes superior ao necessário para aquela família.

                Assim, o novo Coronavírus é um problema social que não vai ser resolvido individualmente e sim coletivamente, as pessoas em condição de extrema pobreza, os idosos, os indígenas, os quilombolas, continuam tendo seus direitos atacados pelo Governo em todas as esferas e com a pandemia, os problemas se agravaram ainda mais.

                Por fim, a pandemia é um problema social independente da classe social, mas que prejudica e deixa rastros desastrosos, principalmente, para as pessoas e grupos que já sobreviviam em condições de vulnerabilidade. A invisibilidade das populações, que vivem às margens dos grandes centros foi colocada em evidência pela pandemia, enquanto o individualismo de uma pequena parcela da população privilegiada utilizar de ferramentas da exclusão do outro, a sociedade continuará no hibridismo de elitismo e exclusão. Afinal, o cuidado da saúde se faz de modo coletivo e não individual.

     

    REFERÊNCIAS

     

    LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica; Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro – Ed. 34, 2008.

     

    MUNDURUKU, D. O Banquete dos Deuses: conversa sobre a origem da cultura brasileira. Ed. Angra, 2000.

     

    <https://www.cenariomt.com.br/mato-grosso/moradores-de-rua-abrigados-em-hotel-durante-pandemia-passam-por-consultas-medicas-em-cuiaba/> passam por consultas medicas em Cuiabá. (Acessado em 23/08/2020).

     

    <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2016/08/30/internas_economia,546485/populacao-idosa-vai-triplicar-ate-2050-revela pesquisa.shtml#:~:text=Publica%C3%A7%C3%A3o%20lan%C3%A7ada%20ontem%20pelo%20Instituto,2050%20(29%2C3%25).

 

Comentários

  1. Importante haver trazido os exemplos locais, além dos internacionais. Muitos textos (científicos, inclusive) pecam por apontar a "lanterna do interesse" para algo que está geograficamente distante, esquecendo-se que em nosso território também enfrentamos desafios similares ou até maiores. Por isso, parabenizo o grupo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

SOBRE ESTE BLOG

IMPACTOS CULTURAIS DA PANDEMIA DO COVID-19: NOVAS FORMAS DE FAZER E VIVER

 Atravessamentos culturais nas subjetividades coletivas